Pressão arterial é tema de discussão entre as sociedades médicas

A American Heart Association lançou, no final de 2013, um conjunto de recomendações para novos parâmetros da pressão arterial, que passam de 140/80 mmHg (14/8) para 150/90 mmHg (15/9). Aqui no Brasil, onde as sociedades de cardiologia fazem campanhas de orientação recomendando a pressão 14/8 como ideal, a medida americana está sendo vista com cautela.

De acordo com o presidente da Sociedade Paranaense de Cardiologia, Dr. Osni Moreira, as mudanças nas taxas, que normalmente são parâmetros para infartos do miocárdio, não são um consenso mundial. “É possível que as metas de pressão arterial sejam definidas caso a caso, pois uma pressão de 120/80 mmHg, espontânea e sem tratamento, está num valor excelente”, afirma. “Entretanto, um paciente pode ter infarto com pressão arterial de 100/60 mmHg ou 200/120 mmHg, pois não há índice que dê uma garantia”, ressalta.

A pressão arterial é uma das causas do infarto do miocárdio. O cardiologista explica que há anos os especialistas avaliam a relação da pressão arterial com o risco de doenças cardiovasculares. O que já se sabe, é que quanto mais alta a pressão arterial de um grupo, mais pessoas pertencentes a ele terão doenças em um intervalo de tempo. “Em um grupo de pessoas com 30 anos, se sua pressão arterial for 180/100 mmHg, possivelmente, cerca de 10% terá uma doença cardíaca em dez anos; se a pressão arterial for 140/80 só 5%, mas, se a medida for 120/80, apenas 2% sofrerão o problema”, compara o cardiologista.

O médico explica que quando se faz o tratamento e se consegue baixar a pressão arterial do hipertenso, diminui-se a possibilidade dele sofrer uma complicação. “A dúvida é qual é o valor de pressão arterial cujas vantagens do tratamento superam as desvantagens. Uma comparação a isto é a velocidade máxima nas estradas e o risco de acidentes. Nenhum número, nem 80 ou 60 quilômetros por hora, garante que vai haver ou não um acidente de trânsito. Mesmo assim, a análise de um conjunto de informações permitiu que se arbitrasse um limite de velocidade que se considera mais seguro.”

Segundo o Dr. Osni Moreira, a avaliação com metas de pressão arterial individuais seria o ideal, contudo, também mais complexa. “Em algumas situações não é necessário fazer nada com a pressão arterial e em outras é preciso implantar ou intensificar o tratamento anti-hipertensivo. O ‘quando’ vai depender do contexto médico”, esclarece, e argumenta: “Tão ou mais importante que 160/80, 140/80 ou 120/80 é equilibramos nossas vidas, ou seja, prevenir o que se pode prevenir e descobrir e tratar cedo o que não se pode prevenir.”

As Sociedades e suas referências
A referência das taxas de pressão arterial usados no Brasil são os mesmos padrões aplicados pela Sociedade Europeia de Hipertensão, de 140/80 mmHg. “A Sociedade Brasileira de Cardiologia ainda vai reestruturar as diretrizes e determinar qual será a necessidade de se adequar às novas recomendações no contexto do nosso país”, pondera.

Para o presidente da SPC, uma parcela das novas recomendações americanas pode ter sido motivada por questões econômicas ou jurídicas. “Em um universo de recursos limitados e necessidades não limitadas, um gestor deve decidir qual será a melhor maneira de se usar suas verbas. Outro ponto são as demandas judiciais, pois se a meta da pressão recomendada fosse 140/80 mmHg ou 160/80 mmHg e um paciente infarta, um juiz poderia considerar que houve negligência do serviço de saúde”, considera.

  • PDF
  • Imprima tranquilo! Nosso layout de impressão não consumirá muitos recursos de sua impressora, pois é preto e branco e contém apenas o texto do artigo.

    Imprimir
  • Email

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

*

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>