Para destacar o tema, Hospital São Vicente promove Semana do Doador Órgãos
O Dia Nacional de Doação de Órgãos – celebrado no dia 27 – tem mesmo motivos para comemoração: o Brasil, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, bateu recorde no primeiro semestre deste ano, com aumento de 7,4% mais doadores de órgãos e tecidos do que no mesmo período de 2015. No total, foram 1.438 doadores, o que coloca o país perto da meta de 14,4 doadores por milhão.
Apesar do avanço no número de doações, a família ainda é o principal impeditivo – 44% das famílias ainda rejeitam o procedimento no país, de acordo com o Ministério da Saúde. No dia a dia, conta a coordenadora da Comissão de Captação Intrahospitalar de Órgãos e Tecidos para Transplante do Hospital São Vicente, a enfermeira Jaqueline Inácio do Nascimento, que também percebe resistência, sobretudo por dois motivos: desconhecer a vontade de quem faleceu e receio de alteração estética. “É importante ressaltar que não há alteração física nenhuma, pois existe um cuidado grande na remoção do tecido, para a aparência estética não ser alterada. Com relação ao desconhecimento da intenção do ente querido que faleceu é outro fator que pesa. Por isso, as campanhas batem tanto no fato de conversar com a família. Mas, as pessoas não gostam de falar sobre morte, ainda é um tabu”. A alegação de motivos religiosos, diz a enfermeira, é rara. “Hoje, felizmente, os líderes religiosos atuam inclusive incentivado a doação”.
Para marcar a data, o Hospital São Vicente promove dos dias 26 a 28, de segunda a quinta, a Semana do Doador de Órgãos. A abertura do evento ocorre às 14h do dia 26, no Centro de eventos do hospital, com um culto ecumênico a todos os doadores e pacientes que fizeram transplantes na instituição.
No dia 27, ocorre uma caminhada com saída do Hospital São Vicente em direção à Praça Rui Barbosa e retorno ao hospital. Os participantes levarão balões verdes representando o Setembro Verde, que lembra a importância da doação de órgãos. A programação segue durante a semana com palestras e depoimentos dos familiares de doadores e transplantados.
Haverá ainda um treinamento para médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem do Hospital para auxiliar a identificar possíveis doadores de órgãos e como proceder em entrevistas familiares. Essa ação faz parte das ações de capacitação permanente que ocorrem no hospital, por meio da CIHDOTT – Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para transplantes.
Captação e transplante
O hospital, que tem, em média, quatro captações de órgãos por mês, conta com uma Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, que atua diariamente com uma análise chamada de “busca ativa”. “Avalio os pacientes cujo quadro possa evoluir para uma piora, com morte cerebral ou parada cardíaca. Depois de uma avaliação neurológica, acompanhamos como será o andamento”, explica a coordenadora do setor, a enfermeira Jaqueline Inácio do Nascimento.
De acordo com ela, na morte cerebral é possível a captação de órgãos e tecidos (já que o coração continua funcionando por aparelhos, permitindo a retirada do fígado, rim e pâncreas, por exemplo). Na parada cardíaca, tecidos (que são as córneas), válvula cardíaca, pele e ossos podem ser doados.
Segundo Jaqueline, doenças infectocontagiosas (como H1N1) são um critério de descarte, pois ela pode ser transmitida para o receptor do órgão ou tecido. Entretanto, já há possibilidade de realizar o transplante caso o doador e receptor sejam portadores de HIV – nessa situação, a disponibilização é possível.
O processo para a doação de um órgão de um paciente do Hospital São Vicente – e de todos os outros hospitais – passa pela logística da Central Estadual de Transplante (CET/PR). “Quando um paciente tem morte encefálica definida e pode ser um possível doador de órgãos, notifica-se a central estadual de transplante, que possui a lista dos possíveis receptores, sendo o serviço, cujo paciente está no topo da lista, contatado. Quando confirma-se a doação uma equipe de médicos do serviço do receptor, encaminha-se ao hospital do doador para realizar a retirada do órgão, e o receptor é chamado para comparecer ao hospital para o transplante”, explica a gastroenterologista/hepatologista clínica da equipe de transplante hepático do Hospital São Vicente, Dra. Fabiana Lora Campos.
Toda essa logística precisa ser rápida para garantir a doação. “É o que chamamos de golden hour, quando um receptor está em estado grave e conseguimos salvar a vida pelo transplante”, esclarece a enfermeira Jaqueline.
Por isso, a abordagem com a família não pode demorar – mas jamais é realizada no momento da notícia do falecimento. “Depois da análise da Central de Transplante, realizamos a entrevista com a família, sempre em um local reservado, e avaliamos a situação antes de iniciar a conversa”, explica Jaqueline, que salienta também a importância do acompanhamento e envolvimento da família em todo o processo hospitalar. “É importante explicar os passos do tratamento, exames, decisões clínicas, e falar sobre a evolução para uma morte encefálica. A família precisa saber disso antes, senão, se sentirá traída. Se for incluída, ao final, ela confiará no profissional e no hospital”.
Transplante
No caso do Hospital São Vicente, onde transplantes de fígado são mais comuns (foram 45 este ano, e 31 renais), a cirurgia procede da seguinte forma, segundo a Dra. Fabiana: quando o paciente tem morte encefálica definida, o fígado é retirado do doador e colocado em uma solução de preservação para transporte para o hospital onde será realizada a cirurgia para explante do fígado doente e implante do órgão do doador. “É uma cirurgia delicada e complexa, com múltiplas anastomoses biliares e vasculares, em um paciente em geral bastante grave”.
Problemas como sepse (infecção), esteastose importante (fígado muito gorduroso), fígado com fibrose mais significativa e isquemia fria longa (órgão já retirado do doador, acima de 15 horas) podem determinar o descarte do órgão doado. “O melhor órgão é do paciente jovem, sem comorbidades, geralmente vítima de trauma e com tempo curto de internamento antes da confirmação da morte encefálica”, salienta.
Depois da cirurgia, todos os pacientes que recebem um fígado novo devem receber um medicamento – chamado de imunossupressor – que combata a rejeição, já que o corpo entende o órgão como um “corpo estranho”. A médica esclarece que, mesmo com esse tratamento, até 50% dos pacientes transplantados podem apresentar rejeição aguda, mas que em geral é facilmente manejada com ajustes na imunossupressão. “O uso de imunossupressores reduz a imunidade e torna o paciente sujeito a um maior risco de infecções oportunistas, causadas por vírus, fungos e bactérias”.
Sobre o Hospital São Vicente-Funef
O Hospital São Vicente atende a diversas especialidades, entre elas Cardiologia e Oncologia. Atende pelo SUS, planos de saúde e particular. Fundado em 1939, o Hospital São Vicente é administrado pela Funef – Fundação de Estudos das Doenças do Fígado Kotoulas Ribeiro desde 2002. Essa junção, realizada pelo então presidente Marcial Carlos Ribeiro, fortaleceu as instituições, transformando o Hospital São Vicente–Funef em referência em transplantes.
De alta complexidade, o hospital atende a diversas especialidades clínicas e cirúrgicas, sempre pautado pela qualidade e pelo tratamento humanizado. A instituição integra a lista de estabelecimentos de saúde que atendem ao padrão de qualidade exigido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, órgão regulador vinculado ao Ministério da Saúde. Mais informações pelo www.hospitalsaovicente.com.br.