Estamos contratando pessoas ou robôs? Como se comportar em uma entrevista? Qual a roupa adequada para conquistar o emprego dos seus sonhos? Quais as perguntas mais frequentes na hora da contratação?
É muito comum ver artigos com títulos semelhantes a estes na internet, basta digitar, em um site de busca qualquer um dos títulos sugeridos acima para ter, em frações de segundos, uma infinidade de material à disposição. Isto acontece porque as entrevistas de emprego ainda são muito semelhantes entre si.
Você provavelmente já deve ter passado por entrevistas de emprego com script parecido que, normalmente, funciona da seguinte forma: alguém sentado em uma mesa analisa seu currículo e faz algumas perguntas sobre sua formação, experiências em empregos anteriores e algumas competências. Logo em seguida é a vez das perguntas “criativas” cujos recrutadores saem bombardeando os candidatos com questionamentos do tipo: “qual sua maior qualidade?” ou “por que gostaria de trabalhar conosco?”. Há ainda aquelas mais estranhas, como: “se você fosse um animal, qual seria?”
A situação fica ainda pior quando a seleção é feita de forma coletiva, colocando candidatos para realizar dinâmicas sem sentido, expondo pessoas que parecem desesperadas para conquistar a tal vaga. Para a minha vergonha alheia, já presenciei alguns processos seletivos deste tipo, algo mais parecido com um campo de batalha ou, pior ainda, com um circo de horrores protagonizando cenas pitorescas que nada se parecem com uma seleção comprometida em buscar bons profissionais.
A área de recrutamento e seleção de pessoas evoluiu bastante, isso não podemos negar, mas, o que percebo, é que alguns aspectos infelizmente permanecem os mesmos. Não estou generalizando, pois acredito que existem empresas que realmente fazem a diferença, mas posso afirmar, seguramente, que elas não são a maioria. Se de um lado temos empresas que usam sempre a mesma dinâmica nas entrevistas de seleção, do lado dos candidatos é possível ver uma grande busca por artigos que ajudem com dicas para ensinar como melhor se comportar em uma entrevista de emprego, o que falar e o que não falar, o que vestir, evitando, assim, ser eliminado.
O que se percebe claramente é uma automatização na forma com que os recrutadores selecionam e também uma tentativa de adequação da demanda por parte dos candidatos, que se “robotizam” para atender as solicitações das empresas. É um tanto divergente querer contratar pessoas diferentes se é feito tudo sempre igual. Mais incongruente ainda é o fato de tolhermos a oportunidade de saber quem realmente se apresenta para a vaga. Ou seja, candidatos e recrutadores vão atrás da “resposta certa”, um querendo rapidamente preencher a vaga disponível e o outro querendo desesperadamente aquele emprego.
É preocupante pensar que algumas pessoas foram contratadas justamente porque deram as respostas certas, se vestiram de maneira correta e se comportaram exatamente como deveriam se comportar, de forma mecânica e totalmente artificial. Precisamos entender que, enquanto existir este tipo de entrevistas nas empresas, mais artigos denominados “como se comportar em uma entrevista de emprego” será possível encontrar por aí.
Não falo isso aleatoriamente, eu mesma já escrevi artigos do gênero com um grande número de acessos, o que pode comprovar o que penso. Estes artigos só têm visibilidade porque existe, por parte das empresas, um processo muito semelhante no momento da entrevista e, se soubermos qual a roupa certa, o comportamento certo e as respostas certas, não precisaremos mais nos preocupar em apresentar grandes competências para se destacar, pelo menos não no momento da entrevista de emprego.
Se continuarmos assim, prevejo um futuro não muito distante onde máquinas poderão facilmente fazer todo o processo seletivo, analisando, inclusive, o tom de voz e as expressões corporais dos candidatos, para então dar o diagnóstico final de aprovado ou reprovado, assim como é feito com máquinas em períodos de experimentação.
Fazer uma entrevista de emprego mais subjetiva, singular e humanizada é de fato mais trabalhosa, mas, se queremos contratar pessoas, devemos assumir esta dinâmica. Caso contrário, ao invés de “gente”, são os “robôs” que serão configurados com um sistema organizacional “adequado”.
Sobre Gisele Meter
Gisele Meter é psicóloga (CRP 08/18389), empresária, diretora executiva de Recursos Humanos, palestrante, consultora estratégica em gestão de pessoas e gestão de mudança organizacional. Colunista de portais e sites voltados ao público feminino e de Administração, ela também é a idealizadora do método Life® – Liderança Feminina Estratégica para o desenvolvimento de líderes nas empresas. Mais informações pelo site www.giselemeter.com.br.