*Professor Marcus Garcia
Segundo a ANL (Associação Nacional de Livrarias), o Brasil fechou 2012 com 3.481 livrarias em operação. Destas, 49% estão instaladas nas capitais dos 27 estados e no Distrito Federal, e as 51% restantes nas demais cidades. Como temos aproximadamente 197 milhões de habitantes, isto significa que há cerca de 1,8 livrarias para cada 100 mil habitantes.
Os dados do IDEB (Índice para o Desenvolvimento da Educação Básica) de 2012, divulgados pelo MEC, mostram que as 192.676 escolas de educação básica no país atendem 50.545.050 alunos. Mas, apenas perto de 64 mil delas possuem bibliotecas. Ou seja, não chega a ter uma biblioteca para cada mil alunos. Isso se reflete, é claro, no déficit de leitura do brasileiro.
O Instituto Pró-Livro realizou em 2011, um estudo no qual foram entrevistadas mais de 5 mil pessoas em 384 municípios. O levantamento revelou que a média de leitura do brasileiro é de quatro livros por ano, sendo que, somente cerca de 50% da população brasileira cultiva o hábito de leitura. Para fazer uma comparação com outros países, na França a média é de 12 livros por ano, na Espanha, 11, nos Estados Unidos, 10, na Argentina, seis, no Chile, cinco e na Colômbia, dois. Na Noruega, maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo, as pessoas leem cerca de 16 livros por ano. Não é um número tão alto comparado a outros países, mas impressiona o percentual da população que cultiva o hábito da leitura, que é de 96%.
O incentivo dado ao estudante para ler deveria começar na escola, mas quase 70% delas sequer têm uma biblioteca. Com esta realidade, o que se pode esperar a não ser grande número de analfabetos funcionais? Dados do Indicador de Analfabetismo Funcional, divulgados em julho de 2012, dão conta que 20% dos brasileiros, de 15 a 49 anos, são analfabetos funcionais, ou seja, aquela pessoa que, apesar de conseguir ler as palavras, não consegue entender e, consequentemente, interpretar a mensagem de um texto de até 10 linhas com até três parágrafos.
A mudança dessa realidade depende de conscientização e sensibilização. Para desenvolver novos patamares intelectuais, culturais e profissionais, a pessoa precisa necessariamente ampliar seu cabedal de conhecimento, o que torna a leitura fundamental. A neurociência já pesquisou e afirmou que a capacidade do cérebro humano é muito grande, e uma vida inteira de estudo e leitura intensivos não seriam suficientes para esgotar uma pequena fração de sua capacidade.
Para cultivar o hábito da leitura nas crianças e nos jovens é preciso que a família e a escola façam sua parte. Hoje, existem obras de todos os gêneros que podem agradar até o mais cético dos leitores. Um bom começo para despertar o interesse pode ser a contação de histórias, seguida de teatrinho, diálogo e outras técnicas de interação e incentivo à leitura que podem ser iniciadas logo após o nascimento da criança. Que tal começar trocando o brinquedo eletrônico por um livro de banho ou um fantoche para os bebês?
Para dizer o mínimo, parafrasearei Mark Twain, escritor e humorista norte-americano que viveu no século XIX e escreveu aquele que é considerado o maior romance americano “As Aventuras de Huckleberry Finn”: “Quem não lê tem pouca vantagem sobre quem não sabe ler.”
* Professor Marcus Garcia possui formação na área de Educação e Tecnologia da Informação, já escreveu 16 livros, entre eles é autor e organizador da série de livros A Escola No Século XXI. www.marcusgarcia.pro.br