Por Professor Marcus Garcia
Os programas de trainee estão mais populares a cada ano. Segundo um levantamento da empresa Cia. de Talentos, que coordena processos de trainees, entre 2011 e 2012 houve um aumento de 56% no número de vagas nas organizações. Nos primeiros dois meses de 2013, já teve um crescimento de 15% em relação ao mesmo período do ano passado. Algumas empresas já tiveram quase 1.600 candidatos por vaga – muito mais concorrido do que qualquer vestibular pelo país afora. Com salários, geralmente, mais altos que a média do mercado e oportunidade de aprendizado e desenvolvimento de carreira em grandes empresas, os programas de trainee viraram a meta de muitos jovens recém-formados.
E por que as empresas investem tanto nestes programas de capacitação? A queixa é que as faculdades não estão preparando adequadamente os estudantes. Os programas seriam uma resposta à fragilidade de formação e modelo de preparação que as instituições de ensino oferecem. Mas, algo que faz parte desta preparação é o estágio, criado para complementar a formação acadêmica e aprontar o profissional ainda durante os estudos que, com o passar dos anos perdeu seu objetivo educacional. O estagiário virou sinônimo de mão-de-obra de baixo custo, contratado não para aprender, mas sim ajudar no que for preciso, uma espécie de “pau para toda obra”. Uma explicação para esta situação pode ser a elevada carga tributária brasileira associada às pesadas contribuições sobre salários, que tornam a operação das empresas muitas vezes um desafio.
A Lei 6.494 de 1977, que regulamentava a situação dos estagiários, deixava enormes lacunas, o que permitia às empresas contratar estagiários com isenção dos encargos sobre os salários para cumprirem funções e papéis que não tinham relação com seu curso de formação. A nova lei do Estágio (11.788 de 2008) corrigiu erros da antiga e regulamentou a atividade, mas ainda existe o “jeitinho brasileiro”, ou seja, continuar contratando estagiários beneficiando-se das isenções, mas sem o compromisso com o processo de aprendizagem favorável à formação do jovem.
Baseado neste cenário, em que as corporações criam programas para suprir deficiências pela quais também são responsáveis, o que realmente seria ideal no Brasil? A resposta é um sistema de estágio no qual o estudante realmente aplique no mundo do trabalho os conceitos que aprendeu na faculdade ou no ensino médio. Uma solução seria a chamada Aprendizagem Cooperativa ou CO-OP, modelo que vem sendo aplicado com excelentes resultados na Universidade de Waterloo, no Canadá, e adotado em outras universidades mundo afora. A Aprendizagem Cooperativa é baseada em pesquisas que defendem a necessidade de cooperação entre as instituições de ensino, estudantes e as empresas, como condição de desenvolvimento e progresso. Funciona com a revisão dos programas de ensino e aprendizagem que faz uma intercalação entre períodos letivos e momento com imersão total no mundo do trabalho, realizando avaliações e supervisão permanentes. O estudante consegue alternar estudo com prática, fazer rodízio de funções, explorando opções para carreira e construindo um networking.
Com a Aprendizagem Cooperativa, as instituições de ensino que oferecem essa possibilidade atraem mais estudantes, com aumento da visibilidade e reputação, já que proporcionam enriquecimento da comunidade educacional com graduados bem preparados e projetos colaborativos com os empregadores, que identificam talentos e ganham com as novas ideias e motivação dos estudantes.
Professor Marcus Garcia
Com formação na área de Educação e Tecnologia da Informação, o professor Marcus Garcia leciona há 30 anos e é palestrante há 15. Já escreveu 16 livros nas áreas técnicas, motivacionais e educacionais, entre eles “Sucesso: uma questão de identidade” e as séries “Educação Profissional” e “A Escola no Século XXI”. Para mais informações sobre o palestrante, é só acessar o site: www.marcusgarcia.pro.br