E não é que tá chovendo, Curitiba?

Por Thiago Rothstein

Peço que hoje deixemos de lado os aspectos que nos fazem ter vergonha de sermos curitibanos, como o provincianismo desenfreado, o tradicionalismo retrógrado e o Chacon, pior cover do Roberto Carlos de todos os tempos.

Afinal de contas, não fica bem falar mal do aniversariante. Então, vamos aos elogios. Curitiba tem um charme único. Mas, vamos ter o pé no chão, e esquecer aquele bairrismo bobo de falar que somos um pedaço da Europa no Brasil.

Curitiba é charmosa pelo seu petit pavê, pelas ruas de pedras do São Francisco (consegui fazer uma frase com pedras e São Francisco sem falar em drogas), pelo Edifício Asa, pela Rua 24 Horas, pelo Palácio Avenida, pela Casa Vermelha, pela Catedral e uma lista tão grande quanto o bigode do Leminski.

Leminski e sua poesia, música, publicidade e caratê. E seu nome ainda ecoa na lista dos livros mais vendidos e também nos paredões da pedreira que foi batizada em sua homenagem. Palco que não vai receber hoje, Sexta-feira Santa, a montagem da Paixão de Cristo do Grupo Lanteri. Tenho um carinho especial pela Pedreira. Vi meu primeiro show lá. Um pequeno festival para o lançamento do primeiro celular pré-pago do Brasil. Cidade Negra, Paralamas do Sucesso e Ivete Sangalo. Grande apresentação do Paralamas que estava lançando o Hey na na. A próxima vez que vi a banda, Hebert já estava de cadeira de rodas e fez um show memorável e emocionante no Teatro Guaíra.

O Teatro Guaíra pode não ser mais o principal palco curitibano, mas é o mais importante, sem sombra de dúvidas. Sua arquitetura é impressionante. A obra modernista de Rubens Meister faz o contraste perfeito com a imponência clássica da Universidade Federal do Paraná que fica do lado oposto ao Teatro, na Praça Santos Andrade. Sem falar do painel de Poty Lazzarotto, que faz da fachada uma verdadeira obra de arte.

Poty se estivesse vivo completaria hoje 89 anos. Sua obra está espalhada por aí. Desde painéis em granito, como o do Guaíra e da Rua do Herval, até os em azulejo colorido do final de sua vida. Em suas últimas obras podemos ver as estações tubo e a estufa do Jardim Botânico. Um painel de Poty, que tenho uma grande lembrança afetiva, é o da Marechal com o calçadão da XV, bem ali na frente do Bamerindus. O desenho retrata um operário, durante reforma da Catedral Basílica, observando a passagem de um zeppelin alemão pela cidade na década de 1930. Mas é na Praça do Homem Nu (19 de Dezembro) que podemos ver a principal obra de Poty. O grande painel em azulejo azul foi encomendado para a comemoração do centenário de emancipação política do Paraná em 1953. Do outro lado do painel de Poty temos a obra em alto relevo de Erbo Stenzel, que também fez o famoso homem da praça.

Nada mais justo que o entorno da Praça 19 de Dezembro, com toda sua arte, recebesse um grafite dos artistas mais expressivos da street art nacional, Os Gêmeos.

Eu poderia me alongar e falar de Odelair Rodrigues, Helena Kolody, Ivo Rodrigues, Dalton Trevisan ou Oil Man. Mas, vou apenas pedir pra que você coloque um cachecol e pegue seu guarda-chuva porque o tempo não deu uma trégua pra Curitiba nem no dia de seu aniversário.

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