Por Kristiane Rothstein
Fiz a base desse texto em 2008. O objetivo era apresentar dicas simples e diretas para meus clientes não errarem na hora de dar entrevistas e, claro, se tornarem “fonte jornalística” – desejo de todos que procuram por uma assessoria de imprensa e consultoria de imagem.
Passado cinco anos, resolvi atualizá-lo, adequando-o às necessidades de hoje.
Os 10 mandamentos da boa entrevista
1º – COI – Siga a sigla: seja Claro, Objetivo e, obviamente, bem Informado
Para se tornar uma boa “fonte”, ou seja, ser chamado para entrevistas em sua área de atuação, o mais importante é ser um profissional muito bem informado. Saber o que acontece ao seu redor é o ponto principal para se consolidar como bom entrevistado. Dar uma boa entrevista não significa falar à exaustão e não dizer nada. Lembre-se, o prolixo não dá entrevista. Aparece uma única vez e depois é “engavetado”. O mesmo acontece com quem não é didático, tenta falar difícil ou usa jargões. Fale como se estivesse se dirigindo a um cliente ou paciente. Ser simples e ter conteúdo é o que interessa.
2º – Seja seguro
Ninguém está livre de ter um “branco”. Entretanto, um profissional que deseja passar credibilidade não pode parecer inseguro. É comum apresentar um certo nervosismo, afinal, isso não faz parte do seu dia a dia, mas não pode deixar que a falta de confiança seja visível a ponto de comprometer a entrevista e, como consequência, a sua credibilidade.
3º – Seja esclarecedor em suas respostas, nada de ser monossilábico
Responder “sim” ou “não” não esclarece nada e a possibilidade de ser excluído da agenda do jornalista é quase 100%. Dar exemplos é sempre uma boa forma de dirimir uma dúvida.
4º – Não desmarque ou atrase entrevista
Se não comparecer ao compromisso marcado você irá para a “geladeira”, ou seja, não será chamado para dar outra entrevista por um longo período. Além disso, irá prejudicar sua credibilidade e a de sua assessoria de imprensa. Também não se deve chegar atrasado ao horário combinado para reportagem, Não adianta dizer: “mas a imprensa sempre atrasa…” Se você combinou o horário deve estar disponível para o compromisso. Esse comprometimento também se refere a não ser interrompido pela secretária, se a entrevista for em seu ambiente de trabalho. É claro que imprevistos acontecem e devem ser comunicados sempre à assessoria de imprensa, que irá pensar em uma solução, apesar disso, atrasos e interrupções devem ser tratados como exceções.
5º – Não queira impor uma falsa intimidade com o jornalista, isso é no mínimo, constrangedor
Há cerca de 20 anos, trabalhei com um produtor experiente que chegava nas entrevistas tratando artistas e autoridades com a maior intimidade. Perguntava da família, dos filhos, de novos investimentos que estava fazendo… Eu sempre percebia um certo constrangimento por parte do entrevistado, mas até o momento achava que, de fato, o tal produtor conhecia quem entrevistaríamos. Para a minha surpresa de jornalista iniciante (foca no jargão jornalístico), ele me confidencializou (conto o milagre, mas não o santo!), que não conhecia ninguém, mas que era uma estratégia para criar uma “certa” intimidade com a possível fonte. Dessa experiência aprendi esse quinto mandamento. Você não engana a ninguém, apenas a si mesmo. Então, nada de inventar uma intimidade que não existe, achando que o entrevistado não vai perceber. Portanto, o relacionamento com o produtor/pauteiro/editor/repórter/cinegrafista deve ser natural e não forçado.
6º – Não cometa erros de português
Ao se expor publicamente, o entrevistado deve ter um bom vocabulário e formar frases com elegância. Lembre-se: “A nível de”, “veja bem”, “olha” não significam nada, apenas deixam a sua resposta menos objetiva. Usar gerundismo (“vou estar te passando”) não é nada bom de se ouvir. Evite também sons como: “huummmm”, “hehehehe”, “bemm..”. Prefira uma pausa rápida, principalmente em programas de entrevista em emissora de televisão ou rádio. Evite também o coloquial “né” no final de suas frases.Cuidado redobrado com os erros no vocabulário: há palavras com sons parecidos, mas que são empregadas de forma diferente, exemplo: perca e perda. “Não perda tempo” não existe. O certo é: “Não perca tempo”, assim como é incorreto: “O veículo deu perca total”. O correto: “O veículo deu perda total.” Palavras como gratuito, intuito, fortuito, circuito não levam acento, portanto, o “ui” é pronunciado junto.
7º – Cuidado com os vícios
De maneira geral, moderadamente ou não, todos temos algum vício, certo? Se você gosta de mascar chicletes, se fuma ou bebe… muito cuidado. Vamos por partes.
Bebida e comida: Se estiver em um evento social, como em uma inauguração ou exposição – pautas cobertas por colunistas sociais, mantenha a etiqueta. Você pode até tomar um drink, mas, sem exageros. Em época de Lei Seca, a atenção tem que ser total. Se estiver de carro e for o motorista, não beba, pois por mais que não seja pego em uma blitz ou cometa alguma infração, você poderá ser filmado bebendo e depois saindo da festa ao volante.
Também é deselegante atacar vorazmente o coquetel. Nada de querer “matar a fome”; o indicado é só petiscar.
Fumo: Nunca fume antes, durante ou logo depois de uma entrevista. Por mais que você acredite que não, todos sentem o cheiro do cigarro, que fica na sua roupa, cabelos e pele. Sem considerar os aspectos da saúde, trata-se de um vício deselegante com o entrevistador ou com o produtor que está lhe esperando.Chiclete: A antiga goma de mascar pode até ser utilizada antes da chegada ao lugar da entrevista ou da equipe de reportagem, mas de forma alguma, deve ser descartada na frente do jornalista. Se você utilizou para refrescar o hálito ou mascarar um nervosismo, tanto faz. O fato de estar mascando pode parecer infantil e nada educado. Dar entrevista com chiclete, então, nem pensar!
8º – Não leve outras pessoas à entrevista
Se você for até o local da entrevista, não precisa levar a família ou outras pessoas da equipe profissional. Além de parecer insegurança, pode não ter espaço físico para essa pessoa assistir a sua entrevista. Ir acompanhado pelo assessor de imprensa já está de bom tamanho.
9º – Não queira ensinar o jornalista e lembre-se: cada profissão é soberana
Não ensine “o padre a rezar a missa”. Ou seja, não queira ensinar o jornalista, orientando quais perguntas ele deve fazer. Só se manifeste se ele pedir sua opinião.Lembre-se ainda que, perante a Constituição, cada profissão é soberana, portanto, a sua profissão não é melhor do que qualquer outra. É apenas diferente. Isso implica dizer também que você não deve pedir para ler a matéria, resultado da entrevista que você concedeu, antes do texto ser publicado – exceção apenas para a sua assessoria de imprensa que, por sinal, discutirá contigo a estratégia de divulgação. Tenha em mente: você não foi obrigado a dar a entrevista, portanto, deve acreditar na técnica do jornalista.
10º – Novas formas de entrevista
Há cerca de vinte anos, em sua maioria, as entrevistas eram feitas pessoalmente e, alguns poucos casos, por telefone. Com o avanço da internet (e problemas da vida moderna, como o trânsito caótico das metrópoles), é cada vez mais frequente entrevistas por email. Revistas, jornais e portais de informação veem nessa possibilidade uma forma de agilizar pautas “frias”, ou seja, aquelas que não são factuais, e portanto, podem aguardar um pouco mais pelo retorno. Se fizerem essa solicitação, aceite! Esta é uma forma bastante segura de entrevista, pois evita que o repórter cometa alguns equívocos e você terá mais tempo para responder as perguntas.
Por fim, colocar-se à disposição e entregar cartões de sua assessoria de imprensa também é uma boa saída para evitar erros. Caso o repórter tenha dúvida, com certeza ele entrará em contato para obter esclarecimento.
No mais, só posso desejar boa entrevista e prometer uma próxima atualização daqui a cinco anos.