Considerações sobre o Homem Dourado

Por Thiago Rothstein

Cartaz da 85ª edição do Oscar

No domingo tivemos a premiação do Oscar. Nesse ano, diferente do trivial, houve uma pulverização nas entregas das estatuetas. O filme que mais ganhou homenzinhos dourados foi o “Aventuras de Pi”, do taiwanês Ang Lee. Mas, dos quatro prêmios, apenas um era de grande importância, o de direção. Confesso que não tenho vontade alguma em ver o filme de Lee. Estou #chatiado com toda a polêmica em torno da “chupada” homérica do livro do Moacir Scliar. O imortal deve estar se revirando no caixão.

Até agora não entendi o porquê desse Oscar pro Ang Lee. Tinha certeza que Steven Spielberg levaria essa. Como a Academia ignorou Ben Affleck nessa categoria, acreditei que a vitória já estava garantida para Spielberg. A barbada perdeu para a zebra (tigre no caso).

Será que a Academia se cansou de Spielberg? Com certeza, o grande perdedor dessa edição, afinal, seu Lincoln concorria a 12 categorias e levou apenas duas para casa. A piada do urso Ted falando que era judeu para se dar bem na indústria cinematográfica ficou sem graça. Spielberg que o diga.

A tábua de salvação do diretor consagrado de outrora, foi Daniel Day-Lewis, que conquistou mais um Oscar pra sua coleção. Day-Lewis, inclusive, carregou o piano nas costas e minimizou a derrota de Spielberg nas principais premiações.

A Academia gosta de dar uma gota de esperança aos cinéfilos. A gota da vez foi o austríaco Amor. Indicado a cinco categorias (dentre as quais as mais importantes), o longa “só” ganhou a de melhor filme estrangeiro. Foi uma espécie de prêmio de consolação ao elogiado trabalho de Michael Haneke.

Menção honrosa ao chileno “No”, primeira indicação do país a melhor filme estrangeiro. Vale muito a pena ver, principalmente, se você é profissional de Comunicação. O longa se passa durante o plebiscito que derrubou os anos de chumbo da ditadura Pinochet. “No” deveria concorrer também a melhor fotografia, já que usou uma câmera e sistema de captação u-matic, utilizados na década de 80. A fotografia da película acaba se tornando personagem e faz com que o clima oitentista fique mais natural e sem os clichês típicos que remetem a essa época.

O lado bom de “O Lado Bom da Vida” foi, sem dúvida, as atuações. De Niro e Jacki Weaver que concorriam por melhor ator e atriz coadjuvante, respectivamente, estavam ótimos em seus papéis. Entretanto, as atuações de Christoph Waltz, por ‘Django Livre”, e Anne Hathaway, por “Os Miseráveis”, transformou os demais concorrentes em verdadeiros coadjuvantes.

Mas quem rouba mesmo a cena em “O Lado Bom…” é a jovem Jennifer Lawrence. Espero que os produtores lembrem-se de suas excelentes atuações não só neste filme, mas também em “O Inverno da Alma”. Lawrence prova que é mais do que um rostinho bonito de Blockbusters adolescentes.

Em contrapartida, todo lado bom tem seu lado nem tão bom. Bradley Cooper não me convenceu como protagonista. Um ator mais consistente e que desse alma ao personagem iria minimizar bruscamente os efeitos de uma comédia romântica. Imagina só se fosse um Edward Norton? Certamente, grande chance de um voo sem escalas, partindo da prateleira da comédia romântica com destino ao drama.

E por falar em drama, Tarantino casou os estilos e, mais uma vez levou o Oscar de melhor roteiro original. O primeiro foi com “Pulp Fiction”, em 1995. A história premiada agora é “Django Livre”. Haja originalidade! E isso, Tarantino tem de sobra. Ele junta suas referências ao modo peculiar de contar uma história e faz ótimos filmes. Senti falta de Leonardo DiCaprio na lista dos indicados a ator coadjuvante.

Ahhh, e o que falar de Adele? Nada! Tudo já foi dito sobre ela. Qualquer elogio seria mais uma constatação boba. A rechonchuda cantora, que se emocionou ao receber a estatueta, fez uma típica música “James Bondiana”, daquelas que o Sean Connery colocaria em sua vitrola para impressionar Ursula Andress. E vamos combinar: nosso querido agente adorador de Martini estava há, pelo menos, três filmes sem uma canção original à sua altura.

O belo musical “Os Miseráveis” me deixou sem fôlego do início ao fim. E olha que não sou um fã ardoroso do estilo. Pra quem ainda não viu o filme e ficou arrepiado com a apresentação do elenco durante a premiação, eu sugiro que corra pra sala de exibição mais próxima. Tocante, emocionante e bem executado. Pena que a Academia não deu o devido destaque ao musical de Tom Hooper. Obra-prima.

Um prêmio que estava sem graça esse ano foi o de animação. O longa “Valente”, ganhador da categoria, deixou a desejar e os concorrentes eram bem fraquinhos. A parceria Disney/Pixar levou mais não convenceu.

Já o melhor curta de animação foi para o singelo “Paperman”. A história de um rapaz e seus aviões de papel agradou nas redes sociais e foi compartilhado à exaustão há algumas semanas. Fato curioso é que a produtora do curta, Kristina Reed, foi expulsa da premiação após jogar aviõezinhos na plateia.

E Argo, hein? Ainda não assisti. Acho que vou achar legal, mas que não mereceu. Amado por alguns, odiado por outros. Pra mim, a trinca de ouro para a conquista de Argo foi: Ben Affleck (queridinho da indústria cinematográfica) + George Clooney (queridão da indústria cinematográfica) + um filme que tinha de mote a produção de um filme (fake mas mesmo assim um filme) = Academia babando.

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